As enchentes no Rio Grande do Sul têm gerado preocupação e impactos significativos em diversas regiões do estado. Nesta matéria, exploraremos as principais causas por trás dessas enchentes, os impactos sociais, econômicos e ambientais. Além de discutir as medidas de prevenção e mitigação necessárias para lidar com esses eventos extremos.
Para entendermos as proporções dessa tragédia, basta lembrar que o lago Guaíba bateu a máxima histórica de 5,33 metros.
Causas das Enchentes no Rio Grande do Sul
As enchentes no Rio Grande do Sul, que se iniciaram em 29 de Abril, foram desencadeadas por uma combinação de fatores, segundo os meteorologistas, são eles: O primeiro é a forte corrente de vento na região, o segundo fator é a corrente de umidade proveniente da Amazônia e o último, a onda de calor central no país.
Esses ventos intensos desequilibram as condições climáticas. Enquanto a umidade vinda do norte potencializa as precipitações, a onda de calor no centro do país impede o deslocamento da frente fria em direção ao sul.
Adicionalmente, o fenômeno do El Niño contribui para o aquecimento das águas oceânicas e o aumento da instabilidade climática. A combinação desses fatores é considerada incomum, porém, com as mudanças climáticas em curso, espera-se que eventos naturais de grande intensidade se tornem mais frequentes.
Outro fator que dificultou o escoamento das águas, é o relevo da capital, Porto Alegre, e a formação topográfica da área ao entorno da região metropolitana. POA é uma planície, cerca de 10 metros acima do nível do mar, cercada por montanhas de um lado e limitada pelo Lago Guaíba do outro.
Impactos Sociais, Econômicos e Ambientais
Os impactos das enchentes são generalizados, afetando comunidades, economia e ecossistemas. As inundações causam danos materiais às residências, empresas e infraestrutura pública, além de resultar em desabrigados, perda de vidas humanas e deslocamentos forçados. Economicamente, as enchentes causam prejuízos significativos às atividades agrícolas, comerciais e industriais, além de gerar custos elevados com reparos e reconstruções. Ambientalmente, as enchentes podem levar à contaminação da água, destruição de habitats naturais e perda de biodiversidade.
Até o último domingo, 12 de maio, o boletim da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, publicado às 9 horas da manhã, nos trouxe os seguintes dados:
- 149 o número de óbitos confirmados
- 452 municípios gaúchos afetados
- 108 pessoas desaparecidas
- 2.144.124 pessoas afetadas pelas enchentes no total
- 538.126 pessoas desalojadas
- 806 feridos
- 76.580 pessoas em abrigos
O mutirão formado por profissionais e voluntários de todo o país que trabalham no estado resgatou até o momento 76.588 pessoas e 11.427 animais. As equipes somam 27.651 pessoas, com auxílio de 4.405 viaturas, 45 aeronaves e 340 embarcações.
(Informações retiradas do último boletim postado às 18h00 do dia 15/05)
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Medidas de Prevenção de Enchentes
Para lidar com as enchentes de forma eficaz, são necessárias medidas de prevenção e mitigação em várias frentes. Isso inclui investimentos em infraestrutura de drenagem e controle de enchentes, zoneamento adequado do uso do solo e reflorestamento de áreas degradadas. Outros fatores seriam a educação pública sobre riscos de enchentes e preparação para emergências, além de medidas de adaptação às mudanças climáticas.
O que dizem os especialistas
Fernando Dornelles, engenheiro civil e doutor em recursos hídricos e saneamento ambiental pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca a importância do mapeamento das áreas de inundação, também conhecido como zoneamento, como uma das principais medidas para mitigar os impactos das enchentes. Segundo Dornelles, é crucial identificar as regiões de passagem da onda de cheia, consideradas zonas de grande perigo, onde a ocupação humana deve ser proibida devido aos elevados riscos de vida. Ele exemplifica com as imagens das áreas destruídas em Muçum e Roca Sales, ressaltando as grandes velocidades e profundidades das águas, que representam um perigo iminente.
Além da zona de grande perigo, Dornelles menciona a existência da zona de restrição ao tipo de uso, onde as inundações ocorrem com menor profundidade e velocidade. Nessa região, ele destaca a necessidade de restrições quanto ao tipo de ocupação. Ele também enfatiza que escolas e hospitais não devem ser localizados em áreas sujeitas a inundação, pois durante os eventos extremos o acesso a serviços médicos é crucial. Ele cita o exemplo do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, que precisou evacuar pacientes devido a alagamentos recentes.
O professor de hidrologia Fernando Fan, também do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, reforça a importância dos mapeamentos para prevenir desastres. Ele destaca a necessidade de um mapeamento topográfico detalhado do estado, semelhante ao realizado em Santa Catarina, que permitiria uma melhor identificação das áreas vulneráveis a enchentes e deslizamentos de encostas. Com essa informação precisa, seria possível agir rapidamente e alertar a população com antecedência. Isso reduziria significativamente os danos humanos e materiais causados por eventos extremos.
O que esperar
As enchentes no Rio Grande do Sul em 2024 destacam a urgência de ações coordenadas e eficazes para lidar com os crescentes desafios relacionados às mudanças climáticas e ao desenvolvimento urbano desordenado. Ao implementar medidas de prevenção e mitigação de enchentes será possível reduzir os impactos negativos desses eventos extremos e aumentar a resiliência das comunidades e do meio ambiente. Provavelmente será necessário uma reestruturação urbana de zoneamento para evitar construções muito próximas aos leitos dos rios. Pensar na reconstrução das cidades já enfatizando esse ponto crucial.
Hoje, vemos a mobilização da sociedade civil diante da tragédia. Voluntários de diversas regiões do país têm chegado à área afetada, desempenhando um papel crucial nas operações de resgate, oferecendo abrigo e distribuindo alimentos e água para os desabrigados.